Ela está focada no peso. Em perdê-lo. Mas há nela uma leveza muito maior. Na voz, nos movimentos, na forma como se aproxima devagarinho. Com uma subtileza - às vezes, doce, às vezes, firme - ela toca-nos, sem tocar.
Construiu uma história em vários alicerces. Alguns rígidos, duros, militares. Formou-se, profissionalmente, num ambiente onde lhe retiraram o nome próprio - e parte da identidade. Vestiu uma pele masculina, esqueceu, por momentos a educação de casa, e atirou uns quantos palavrões. Era preciso ganhar respeito.
Domou feras pesadas (essas, sim, bem pesadas!) e lá foi ela armada, pelo país, ao volante de 18 rodas. Às vezes, nos trabalhos que exigiam a máxima dureza, ela reencontrava doçura. A dela espelhada nos outros.
A Alda sente-se um colibri. Que esvoaça e colhe experiências aqui e ali. Eu vejo-a como uma fénix, sempre a reinventar-se, a renascer.
Tem uma lucidez que assombra. E, atenção, olhar para os outros é fácil - ou mais fácil. A Alda vê-se. Para dentro e por dentro. Enfrenta os próprios demónios, aceita-os e doma-os. Não tem medo de fazer escolhas. Daquelas que nos viram do avesso. À vida e a nós. Daquelas que nos fazem repensar tudo e todos.
A Alda sabe que há uma Luz: dentro dela, dos outros e talvez mais acima, algures, noutro patamar. Por isso, não tem medo da escuridão.
Um dia, usou vestes masculinas. Mas não perdeu a feminilidade.
Às vezes, faz voz firme. E não perde a doçura.
Muitas vezes, tomou decisões difíceis. Sem perder a serenidade.
Tantas vezes muda de caminho. Sem medo de perder o rumo.
E quando o caminho dela se cruza com o nosso há tanto dela que fica. Só nos resta esperar que leve, na sua leveza, um bocadinho de nós.
Esta é a história da Alda. Toda a gente tem uma história. Qual é a tua? #todaagentetemumahistória #jornalista#storyteller
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