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Foto do escritorMarta Rangel

#todaagentetemumahistoria

Atualizado: 28 de nov. de 2018

Muita gente conhece a Lara. Pouca gente conhece realmente a Lara. Vista de fora, assemelha-se a um castelo. Não pela imponência ou altivez. Pelo contrário. É um daqueles castelos como o da Cinderela, onde é possível acreditar em finais felizes. É convidativo, convida a entrar - como ela, que abre sempre a porta, achando que quem vem, vem por bem. Tem vários quartos, onde cabem todos os que lá querem ficar. Às vezes, até, sem pedir. Como qualquer castelo que se preze, este também tem torres e uma masmorra. Nas torres, guarda os tesouros mais preciosos: memórias de uma infância em família, a (pouca) rebeldia da adolescência, a alegria dos cruzeiros, o colo do pai, os ralhetes da mãe, a liberdade de uma acelera, os inúmeros animais de estimação, os sonhos cantados em palcos, as primeiras paixões, os primeiros sonhos, as primeiras ilusões... Quando a Lara sobe às torres, há um céu limpo, azul e brilhante com nuvens fofas, onde apetece repousar. Ali não há só memórias. Há também desejos de contos de fadas, de histórias de Príncipes e Princesas, onde não cabem Madrastas ou Bruxas Más. É ali que joga o coração ao alto, os olhos brilham mais e acredita que a Luz será sempre maior do que a Escuridão. As masmorras estão cheias de baús, caixas e caixotes. Às vezes, passa por lá. Alguns baús precisam de ser abertos. Para que certas memórias - ainda que dolorosas - nunca fiquem esquecidas. Outros, não quer abrir. Talvez numa tentativa de, por momentos, esquecer que existem. Algures, no meio de tantos quartos - onde cabem os pais, os irmãos, os sobrinhos, o marido, os amigos - há um que é só dela e onde, dificilmente, alguém consegue entrar. Às vezes, fecha-se lá. E dorme. Para o tempo passar. Outras vezes, escancara a porta, atira-a com força e grita ao mundo que nada a vai travar. Algumas vezes. Raras vezes. A Lara gosta de toda a gente. E gosta que gostem dela. Quem não? Para muita gente, ela é uma espécie de menina-mulher, com um sorriso doce, sempre disposta a agradar. Às vezes, vira fera. Pelos outros, pelos dela. Muito menos por ela. Talvez porque se esqueça que há ali uma leoa - mesmo de águia ao peito.

- Já não sei cantar... - Que disparate! Claro que sabes! - Já não sei escrever peças... - Dah... Fizeste isso a vida toda! - És tão minha amiga... - Só te digo a verdade!

Há dentro dela uma Lara que se agiganta. E que ela teima em calar. Tanto que, às vezes, atinge o limite. Explode. Ou implode. Em tempos, escreveu uma história e quer segui-la, rigorosamente, até ao fim. Em cada detalhe. Mesmo que as linhas sejam tortas, continua a tentar escrever direito. O que será melhor? Alinhar ou desalinhar? Não sei. Espero que ela, um dia, descubra. A Lara vive o Amor fora do peito. Aquele Amor Maior que já foi - e será sempre - côderosa. E o outro Amor Maior, recém-chegado, recém-conquistado, a maior Victória de todas. A Victória que lhe devolveu a esperança, o caminho, a luz, a vontade de viver. Agora só faltam outras victórias. Com letra minúscula mesmo. Mas que sejam grandes. Grandes para ela, dentro dela, genuinamente por ela. Porque só podemos viver por nós. Por mais que queiramos bem aos nossos. Por mais que queiramos ser parte dos outros. Muita gente vê a Lara. Poucos a olham como ela é. Talvez nem ela. E se começasse?

Esta é a história da Lara. Toda a gente tem uma história. Qual é a tua?




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