É economista, mas podia ser agricultor. Dividido, em tempos, entre o perfeccionismo dos números e a paixão pela botânica, deixou que a razão tomasse a dianteira. E ainda bem. Porque hoje faz ambas. Uma profissionalmente, a outra, enquanto amador – porque ama as flores, as plantas, a agricultura.
Natural de Ílhavo, considera que foi uma criança igual a todas as outras. Sem grandes pressões por parte dos pais, com uma educação “normal”, teve, desde cedo, uma natural apetência pela Matemática: menos pelas contas, mais pelo rigor, pelo minimalismo, pela abstração. De tal modo que passou a ser uma forma de estar na vida. António Bagão Félix considera-se um minimalista tanto na necessidade de bens materiais como no raciocínio. Mas quem o ouve dificilmente resiste a deixar-se levar por uma cultura muito provavelmente acima da média: cita autores portugueses e estrangeiros de cor, incorpora-os na própria vida, utiliza as obras para explicar questões mundanas. É fácil entendê-lo.
Licenciou-se em Economia e Finanças pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras da Universidade Técnica de Lisboa. Na cadeira de Finanças I, dois nomes destacaram-se: para ele, para a vida, para o país. Aníbal Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite eram os professores assistentes, António Bagão Félix o aluno. O rigor que apreendia nas aulas, também aplicava fora delas: se tivesse exame a uma quinta-feira, estudava até terça. Quarta-feira era “dia de pousio” – tal como a terra, o cérebro também precisa de um tempo próprio.
Terminou o curso em Julho de 1970 e, em Setembro, entrou para a tropa. Escolheu a Marinha e, por sorte ou obra do acaso, não foi chamado a combater na Guerra Colonial. Começou a vida profissional, em 1973, na companhia de seguros Mundial. Ali, conheceu outro homem que iria ser determinante para a sua vida profissional e pessoal – o mentor e amigo João Morais Leitão. António Bagão Félix ficou na seguradora até à nacionalização e depois seguiu o seu percurso: COSEC, Instituto Nacional de Seguros… Chega à política, pela primeira vez, em 1980, no Governo de Sá Carneiro, quando Morais Leitão, Ministro dos Assuntos Sociais, o chama para seu secretário de Estado. Tinha 31 anos. Desde então, foi três vezes secretário de Estado da Segurança Social, secretário de Estado do Emprego, ministro da Segurança Social e do Trabalho e ministro das Finanças.
A quase obsessão pelo método acompanha-o pela vida fora. Admite, até, ser excessivamente perfeccionista – ao nível, por vezes, da exaustão. Para poder descansar e meditar, foge para o campo, no Alentejo, onde se sente mais gente. Tem fé em Deus e no Benfica – embora considere uma quase heresia colocar os dois na mesma frase. É político em quase tudo o que diz e faz: pelo amor à causa pública, pelos ideais, pelo hábito de pensar no bem comum, não pela política em si, com a qual garante ter uma relação de total independência. Dependente só daquilo que gosta. Por isso, é livre.
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