Quem o ouvisse, pela primeira vez, julgaria estar perante um pensamento a régua e esquadro. Como se as ideias estivessem muito bem arrumadas em folhas de Excel. Como se a vida fosse tão variável como um gráfico de barras.
Poucas vezes saía deste olhar racional e razoável. Quando procurávamos sentir-lhe o plano dos afectos, parecia que tudo se encaixava como nas histórias de príncipes e princesas que começam com “era uma vez” e terminam com “foram felizes para sempre”. Só saía da sua zona de conforto - assumidamente - para defender os seus. Aí vestia a pele do Cavaleiro de Ofir e, se preciso fosse, desembainhava a espada. Enfrentava quem tivesse de enfrentar. Deixava o raciocínio num canto do cérebro e todo ele era emoção.

Talvez ao descobrir-se tenha descoberto outro mundo. Um mundo em que zeros e uns não explicam tudo. Um mundo em que o racional nem sempre tem lógica. E a lógica nem sempre faz sentido. Um mundo que não tem só preto e branco - porque existem muitos tons, não só de cinzento.
Talvez ao querer descobrir mais sobre o funcionamento do cérebro tenha encontrado o coração. Esse ser vivo que, às vezes, parece querer ter autonomia para saltar do peito. O Carlos também saltou: para dentro de si próprio e para dentro de outros mundos dentro do Mundo. E aqui vieram ao de cima todos os seus tons - uns mais escuros outros mais coloridos. E aqui as gargalhadas misturaram-se com as lágrimas. A razão misturou-se com o coração. E, no meio deste aparente caos, estava ele, mais fora dele, mais dentro de si, mais inteiro, mais autêntico.
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