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  • Foto do escritorMarta Rangel

Uma mulher pode ser o que ela quiser

Quem disse que uma mãe não pode ser sexy? Quem disse que uma mulher não pode ser o que ela quiser?



Felizmente, em Portugal, na maior parte dos casos, pode. Vejamos algumas conquistas, segundo a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG):


- em 1974, as mulheres puderam começar a votar (e ser eleitas)

- em 1976, o marido deixou de ter o direito de abrir a correspondência da mulher

- em 1978, com a revisão do Código Civil, a mulher casada deixou de ter o estatuto de "dependente" do marido; o homem deixou de ser o único responsável por administrar os bens do casal; cuidar da casa deixou de ser considerada uma obrigação apenas da mulher; a residência do casal passou a ser da responsabilidade de ambos (e não, apenas, do homem); o poder paternal passou a estar em igualdade de circunstâncias; marido e mulher puderam acrescentar dois apelidos um do outro após o casamento.


E ainda:


- em 2007, foi aprovada a interrupção voluntária da gravidez (IVG) por opção da mulher nas primeiras 10 semanas de gravidez (e, de acordo com a Lei 16/2007 de 17 de Abril, apenas a mulher tem legitimidade para decidir se deseja interromper a gravidez, enquanto o homem não pode interferir ou opôr-se à decisão). E, segundo dados da Direção-Geral da Saúde, o número de IVGs, por opção, tem vindo a diminuir nos últimos anos.

- em 2009, as licenças de parentalidade foram alargadas: a licença de parentalidade inicial passou a poder ser de 5 meses remunerados a 100%; 6 meses, remunerada a 80% (quando pelo menos um dos meses for gozado de forma exclusiva por cada um dos progenitores) ou 9 meses financiada a 25%. O número de dias a gozar obrigatoriamente pelo pai passou de 5 para 10 e foram concedidos mais 10 opcionais.

- em 2010, foi aprovado o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e, segundo a OCDE, Portugal é o país com maior progresso e conquistas legislativas para as pessoas LGBTI nas últimas duas décadas


No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer porque:


- o mercado de trabalho é desigual para homens e mulheres: segundo dados do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, os homens ganham mais 14% do que as mulheres (cerca de 148 euros) e, nos cargos superiores, a diferença é de 26,1%

- as mulheres continuam a ser a minoria nos cargos de poder: de acordo com um estudo da Informa D&B, em 477 mil cargos de gestão nas empresas portuguesas, apenas 29,8% são ocupados por mulheres

- a violência doméstica continua a ser um flagelo: segundo a UMAR, em 2020, foram assassinadas 30 mulheres. Desde 2004, foram mortas 564.

- as mulheres continuam a ser as mais afectadas pelo assédio sexual: de acordo com um estudo internacional referido pela APAV, quase 78% das mulheres dizem já ter sofrido este tipo de assédio em locais públicos e são as principais vítimas no local de trabalho (14,4% contra 8,6% no caso dos homens)

- a Covid-19 prejudicou mais as mulheres no trabalho e na conciliação da vida profissional e familiar : de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o desemprego afectou mais as mulheres do que os homens, as faltas ao trabalho foram maiores entre as mulheres , sobretudo quando as escolas e infantários fecharam e as condições de trabalho pioraram nos empregos presenciais.

- ainda são as mulheres que mais se responsabilizam pelas tarefas domésticas: segundo a ONU, as mulheres fazem o triplo do trabalho dos homens, em casa, e, com a pandemia, esta tendência duplicou.

- a licença de parentalidade ainda é manifestamente insuficiente sobretudo num país em que se pretende incentivar a natalidade: a OMS recomenda a amamentação até aos 6 meses e defende que devem ser criadas as condições para a mulher poder ter esse direito. No entanto, há muitas famílias que não podem optar pela licença alargada, tendo em conta a quebra nos rendimentos. Por isso, a Iniciativa Legislativa do Cidadão lançou uma petição pública para alargar a licença para 6 meses pagos a 100%.


E a lista poderia continuar. Agora numa nota mais pessoal: já fui várias vezes uma mulher num mundo de homens. Por exemplo, enquanto jornalista de Economia, quando trabalhei num clube de futebol ou como assessora de imprensa de um Ministro. E, desde que trabalho por conta própria, por vezes, é difícil marcar uma fronteira entre um flirt inofensivo e o assédio; entre uma reunião de trabalho e uma desculpa para um encontro; entre ser uma mulher feminina e profissional. Já tive, inclusivamente, na minha vida profissional, episódios desagradáveis de assédio óbvio, dos quais tive que me defender como pude e optei por não fazer queixa para não sofrer represálias (felizmente, nenhum suficientemente grave, senão não hesitaria em denunciar). Por aqui, nas redes sociais, quando coloco uma fotografia como esta, um pouco mais ousada ou sexy, também é frequente receber comentários do género "Já te vestias", "Isso era desnecessário" ou coisas piores. Curiosamente, muitos vêm de mulheres.

Acredito, profundamente, numa frase atribuída a Robert Ingersoll: "We Rise by Lifting Others". Ou seja, é através da entreajuda, da união, da empatia, da compaixão e do apoio às necessidades, projectos e sonhos dos outros - ou, neste caso, das outras mulheres - que também nós podemos crescer. Espero, daqui a alguns anos, estar a escrever um texto sobre muito mais conquistas e uma maior igualdade. A bem de todas (os).

 

Esta fotografia foi tirada durante uma mini-sessão fotográfica realizada em Dezembro pela minha amiga e consultora digital, Ana Ferreira, da Owl Consultoria Digital. A maquilhagem e o cabelo foram feitos pela Lara Bartolomeu, com o apoio da Vanityme, empresa parceira da minha querida amiga e mulher de negócios Filipa Soares. Na altura, estava grávida de 19 semanas. Agora estou de 31 :)

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